Nonsense Friday

Nonsense Friday – Pretensões Shakespeareanas

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Olá Geeks!

Repitam comigo: Sexta é dia de… Não, dorgas não, sexta é dia de Nonsense Friday! (Tá bom, dorgas também – ou não, sei lá)

Nonsense Friday
Dean Lennox Kelly como Shakespeare em “The Shakespeare Code” (Dr. Who)

 

Quem me dera ser um Shakespeare

 

Uma de minha pretensões enquanto vivo (porque depois que morrer pretendo realizar outras) é escrever uma peça de teatro. Uma dessas peças imortais, sabe? No melhor estilo Macbeth, Rei Lear, essas peças que todos ouviram falar e sempre ouvirão. Ou então, sonho em escrever aquelas peças de contracultura tipo Roda Viva do Chico, ou O Homem do Príncipio ao Fim, do Millôr. Ou até mesmo aquelas peças de pseudo-intelectuais-vanguardistas, tipo Samuel Beckett.

E foi analisando essas pretensões, e analisando os escritos supracitados, que eu vi que tenho capacidade para fazer peças iguais ou melhores! Assim, dei início a minha peça ainda incabada, intitulada “Memórias de Marasmo”. A seguir, pequenos trechos dela:

 

Memórias de Marasmo

 

(A cortina ainda fechada, luzes apagadas. Ouve-se uma voz ao fundo, voz do personagem principal, Sócrates)

Sócrates: Meu nome é Sócrates. Não, não sou e não possuo nenhum parentesco com o filósofo. E caso você não goste da peça, fique sabendo que eu, Sócrates de 2008, não tomo cicuta nem nada, portanto, permaneço vivo.

(A cortina sobe e vê-se Sócrates vestido de lobisomem no centro do palco, vazio. Um holofote ilumina o lobisomem, o resto do palco permanece escuro)

Lobisomem: Sempre gostei de macarrão, não posso negar. Macarrão à bolognesa, macarrão ao molho madeira, macarrão à puttanesca, macarrão ao molho branco, macarrão ao alho e óleo, enfim, tudo que envolva macarrão. (Senta-se na beirada do palco) Para mim, o macarrão sempre foi um empecilho nos meus relacionamentos interpessoais. Ah, e claro, também o fato de ser um lobisomem, afinal, quem gostaria de estar dando uma festa e, de repente ao olhar para o lado, vê um lobisomem segurando uma taça de vinho? Uma coisa que não é contada, é que lobisomens são gays, portanto, mulheres com fetiche por pêlos, sorry. Sim, somos gays, afinal de contas você já ouviu de alguma “lobimulher”? Um de nossos ancestrais tentou uma aproximação com uma Monga de um parque de diversões, mas descobriu à duras penas, ou pêlos, que gorilas não são chegados em lobos. (Anda em direção ao final do palco.) Um último aviso: cuidado com os pepinos. (Sai, e a cortina desce)

(Cortina sobe. Luzes do palco apagadas. Logo ouve-se o ranger de uma porta e as luzes são ligadas. Vê-se uma parede branca ao fundo com uma porta preta. Saindo dessa porta, vemos Sócrates travestido. Sócrates traz junto de si uma cadeira. Leva a cadeira ao meio do palco, senta-se e cruza as pernas. Procura algo na bolsa, uma piteira vermelha. Coloca nela o cigarro, o acende, e começa a falar)

Travesti: Acabei de chegar da funerária. Fui lá mandar fazer o meu caixão. Eu mesma desenhei e mandei fazer. É um caixão rosa e verde, com talhas de pássaros e flores parecendo aquelas iluminuras do século XVIII. Minha gente, desculpe o clichê, mas, (começa a cantarolar) “quando eu morrer, não quero choro nem vela!” (Levanta-se e começa a andar pelo palco e ocasionalmente olha para a platéia) E já preparei meu traje para o funeral. Será totalmente Coco Channel, um longo preto com dois broches: um da Gisele – minha deu-sa! – e o outro é um broche de madrepérola que roubei de uma amiga, mas isso é outra história. Estarei calçando um par de Manolos Blahnik, pretos com detalhes de diamantes no salto. Sabe, eu acho que a vaidade é importante até na morte. Porque eu quero morrer com classe! Nada daquelas mortes à là Lupe Velez! Lupe sonhava em uma morte perfeita, e para concretizar seu plano, resolveu se matar. Jantou guacamole com tortillas. Depois foi ao quarto, colocou seu melhor robe de seda branca, e tomou uma cartela de remédios para dormir. (Senta-se novamente) Deitou-se na cama esperando a Morte ceifá-la. Porém, sentiu uma certa indigestão e foi ao banheiro. No banheiro, teve uma diarréia e vomitou. Sem forças, levantou trôpega e bateu com sua cabeça no granito da banheira. Resultado: morreu vomitada, cagada e com a cabeça embebida de sangue!

Gente! Acabei de lembrar de uma coisa! Hoje comprei um novo estojo de maquiagem da D&G, querem ver? (Começa uma busca desenfreada em sua bolsa até achar o estojo) Olhem que lu-xo! (A cadeira se quebra e o travesti cai da cadeira e morre agonizando no palco com uma perna [da cadeira] atravessando seus pulmões. A cortina desce)

(A cortina sobe e vemos Sócrates de costas, vestido de soldado romano e dançando ao som de Like a Virgin. Ele vira-se para a platéia, dá uma risada, pega sua espada e começa)

Soldado: Eu comi a Madonna. Sério mesmo. A minha Madonna. Certo, não é a Madonna-Putona-Delícia, mas é a minha esposa, Madonna da Silva. Um dia desses, fui pegar uma roupa minha no armário e sem querer, abri a gaveta das calcinhas da Madonna, e lá vi duas baratas copulando sobre a calcinha de motivos havaianos, e eu não sei o porquê que eu lhes disse isso. Ah, e antes que vocês me façam a mesma pergunta que o motorista do ônibus me fez, já vou dizer: estou usando essa fantasia de soldado porquê tenho uma festa a fantasia daqui a pouco, o tema da festa é “Pessoas da História que Tinham Bronquite”. Achei um tema interessante. A propósito, sou professor de história da Universidade Galhos Secos Não Quebram. Minha tese do doutorado foi “A Influência dos Escaravelhos na Glória Maria”, essa tese foi aplaudida de pé pelas cento e dezessete pessoas que assistiam a palestra. Se eu estivesse na platéia eu também aplaudiria. E depois da palestra eu distribuí quindins aos presentes, afinal o quindin também é citado em minha tese por causa de sua direta relação com a formação de folículos capilares. (Ouve-se o ínicio de I Want to Break Free. O soldado põe a mão no bolso escondido da fantasia, pega seu celular) “Oi amor. Sim, claro. Uhum. Ok, agüenta as pontas que eu logo chego aí”. (Desliga o celular e o põe de volta no bolso) Meu povo, desculpem-me, mas a minha Madonna não conseguiu fechar os botões de trás da fantasia de Freira Clausurada, então vou ajudá-la. Até mais! (Saindo do palco e cantarolando Papa Don’t Preach).


 

Bom, esse é o primeiro ato de minha peça “Memórias de Marasmo”, uma peça que analisa a malfadada vida de Sócrates por vários prismas sociais, econômicos, sexuais e mecânicos.

Espero logo terminar para todos poderem vê-la e sentirem o mesmo que senti ao escrevê-la: um profundo sentimento de análise do homem e seus cães.

Gostaria que Sócrates fosse intepretado por Marcello Mastroianni, mas, acho que não dá…


 

Por hoje é isso amigos geeks, espero que tenham gostado de mais um Nonsense Friday. Não esqueçam, vocês podem ler a coletânea Nonsense Friday clicando aqui!

Se você curtiu, deixe um joinha e compartilhe! Abraço e até a próxima sexta!

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Delson Borges
Mineiro de Cambuquira, 28 anos, amante da poesia e causos que em devaneios e inspirações cotidianas transfere o que sente e contempla da vida para a literatura. Pretendo levar o leitor à lúdica aventura de sorrir, refletir e se deslocar no tempo e no espaço através de meus contos, muitos sem sentido ou nonsense como chamam os entendidos do assunto.
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